O mais renomado historiador da Segunda Guerra publica obra sobre as três décadas do século XX que levaram a humanidade ao inferno.
O historiador inglês Ian Kershaw é provavelmente um dos nomes mais conhecidos da historiografia sobre Segunda Guerra. Em mais de trinta anos de pesquisas, Kershaw publicou duas dezenas de livros. Entre eles O Mito Hitler, Hitler – Um perfil do poder, a imensa biografia Hitler e O fim do Terceiro Reich, publicado no ano passado pela Companhia das Letras, entre outros.
Em seu novo livro, De volta do inferno: Europa, 1914-1949, publicado pela Companhia das Letras, Kershaw se debruça sobre as três décadas e meia do século XX que arrasaram a Europa e o decidiram os destinos do mundo. O período compreendido entre 1914, como o início da Primeira Guerra, e 1949, os primeiros anos pós-Segunda Guerra, foram marcados por transformações políticas, selvageria e um grau de violência nunca antes vista na História – “la guerre totale”, expressão criada da França para designar campo de batalha e retaguarda, compartilhando as agruras da guerra de forma semelhante como nunca visto antes.
As duas fases de gigantescas inquietações econômicas e sociais, separadas por tão pouco tempo, criaram um clima em que tanto a provação como o medo dela alimentaram intensamente os radicalismos políticos.
Sobre esse período, considerado um dos mais impactantes na História da humanidade, é que o historiador lança uma visão panorâmica, abre o leque de problematizações e tenta entender – e esclarecer – o mais complexo conflito humano.
Como tem sido característicos das obras mais recentes sobre o tema, Kershaw dedica especial atenção a zonas do conflito até bem pouco tempo marginalizadas pela historiografia, como as questões que envolveram a Espanha de Franco, os países do Leste Europeu, pré e pós-Segunda Guerra, e até mesmo a França no período entre guerras. Sem contar, o aprofundamento que faz das questões envolvendo Alemanha, URSS, Inglaterra e Estados Unidos. E sua análise leva em conta não apenas o ponto de vista militar, mas essencialmente o político, o econômico e o social.
As cisões históricas eram profundas demais para permitir que os interesses nacionais fossem superados de forma rápida ou abrangente.
Analisa ainda o que ele chamou de década “dos ditadores”, os sombrios e tumultuados anos 1930, o surgimento de partidos extremistas de direita e também o radicalismo autocrático stalinista que pôs fim ao sonho socialista como alternativa utópica ao capitalismo opressor. E como, apesar de tudo, a Europa voltou do inferno.
Com 574 páginas, De volta do inferno: Europa, 1914-1949 conta com um índice remissivo bem elaborado, trinta fotos e, para alivio de alguns, está livre de notas.
Sempre com uma visão acurada e uma narrativa envolvente, embora detalhista e de grande amplitude. Como já apontamos aqui, Kershaw faz parte do seleto grupo de historiadores que aliou seriedade e credibilidade na pesquisa histórica à prosa de qualidade. De volta do inferno: Europa, 1914-1949 é obra de referência sobre a Primeira e a Segunda Guerra.
Por Rodrigo Trespach
Saiba mais sobre a obra no site da Companhia das Letras.
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