Uma importante missão diplomático-militar chilena, liderada pelo comandante Constantino Bannen, chegou ao Rio de Janeiro a bordo do encouraçado Almirante Cochrane, no dia 11 de outubro. Mal sabiam os chilenos que seriam testemunhas oculares da queda da monarquia brasileira: fizeram parte, entre diversas atividades sociais, do célebre baile da Ilha Fiscal, a última manifestação de pompa e circunstância do Império Brasileiro.
Em Festas Chilenas: sociabilidade e política no Rio de Janeiro no ocaso do Império, organizado por Jurandir Malerba, Cláudia Heynemann e Maria do Carmo T. Rainho, e publicado pela EdiPUCRS (2014), nove pesquisadores se debruçam sobre os cerca de 850 documentos, entre convites, cardápios, discursos e uma pilha de recortes de jornais, guardados no Arquivo Nacional desde 1930, e traçam um retrato do frenesi de compromissos sociais em que a alta sociedade carioca mergulhou durante os dois meses da passagem da missão chilena pela capital brasileira.
“São fatos que nos ajudam a entender as relações sociais e a própria mentalidade da sociedade naquela época”, escreveu uma das organizadoras da obra, a historiadora Maria do Carmo T. Rainho.
Ricamente ilustrado com fotos e documentos da época, Festas Chilenas reconstrói a sociedade da Corte, seus hábitos, maneiras, modos de ser; o cenário urbano, palco dos acontecimentos; os agentes em cena (o imperador d. Pedro II, seus visitantes, seus políticos, fiéis monarquistas ou contestadores republicanos); os motivos ideológicos, os discursos e as práticas.
E isso só foi possível devido ao conjunto de pesquisadores, de diversas especialidades, que os organizadores reuniram para compor o livro: o chef Laurent Suaudeau, o poeta Sebastião Uchoa, os historiadores Carlos Ditadi e Vivien Ishaq, do Arquivo Nacional, Victor Melo, da UFRJ, e o pesquisador Carlos Sandroni, doutor em música e professor da UFPE.
Este seleto grupo de pesquisadores teve acesso, estudou e analisou o enorme acervo guardado no Arquivo Nacional e que havia sido recolhido, à época da Proclamação da República, pelo capitão de fragata José Egydio Garcez e depois oferecido ao ministro da Marinha no governo provisório (1889-1891), almirante Eduardo Wandenkolk. O acervo é composto de convites para bailes e coquetéis, cardápios de almoços e jantares, carnês de bailes, programas de regatas na praia de Botafogo e páreos no Derby Fluminense, além de partituras, poemas e uma variedade de outras publicações.
O famoso baile da Ilha Fiscal, por exemplo, é narrado em detalhes e cores vivas. Originalmente previsto para 19 de outubro, foi remarcado para 9 de novembro. Acabou sendo o último baile da monarquia, que cairia seis dias depois.
Por Rodrigo Trespach
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